Governo do Brasil acompanha visita do CNJ à TI Uru-Eu-Wau-Wau e ao PAD Burareiro, em Rondônia

Governo do Brasil acompanha visita do CNJ à TI Uru-Eu-Wau-Wau e ao PAD Burareiro, em Rondônia

Representantes de mais de 20 órgãos visitaram os locais da Operação de Desintrusão da TI acompanhados da Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça; a partir das informações recebidas, CNJ elaborará relatório sobre o caso

1. Governo do Brasil acompanha visita do CNJ à TI Uru-Eu-Wau-Wau e ao PAD Burareiro, em Rondônia

O Governo do Brasil acompanhou durante a última semana, em Rondônia, visita técnica promovida pela Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com moradores da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e do Projeto de Assentamento Dirigido Burareiro (PAD Burareiro). O objetivo da visita foi encontrar uma solução consensual a respeito da sobreposição de parte do território com lotes do projeto de assentamento. As agendas contaram com a participação de representantes de 20 órgãos federais e das comissões de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) e do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1).

Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o Governo Federal iniciou, em setembro deste ano, a Operação de Desintrusão no território. Essa é a nona desintrusão realizada desde 2023, como parte da política de proteção dos territórios tradicionais, das comunidades indígenas e dos biomas brasileiros.

“As visitas técnicas são cruciais para os integrantes do Conselho Nacional de Justiça, que buscam dialogar tanto com a comunidade indígena quanto com os agricultores ligados ao PAD Burareiro. Elas visam estabelecer uma estratégia de conciliação, sem questionar a posse da terra indígena”, explica o coordenador-geral da Operação de Desintrusão da TI Uru-Eu-Wau-Wau, Nilton Tubino.

DIÁLOGO E MEDIAÇÃO - A postura marcada pelo diálogo e mediação ficou clara logo na primeira reunião, com as comunidades indígenas Jupaú (Urus) e Amondawa. O encontro se estendeu durante toda a quarta-feira (22). Pela manhã, os indígenas apresentaram suas posições, seguidos por seus advogados. Na sequência, falaram os representantes do Governo do Brasil, como Instituto Nacional de Colocação e Reforma Agrária (Incra), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Advocacia-Geral da União (AGU) e Casa Civil, entre outros. “Ficou evidente que os indígenas não abrem mão de seu território, devido à sua história e ao tempo de ocupação, anterior até mesmo à formação do assentamento. Portanto, a possibilidade de ceder suas terras foi descartada”, detalha Tubino.

No dia seguinte, uma nova reunião foi realizada na Associação dos Produtores Rurais da Comunidade da Linha C-05 (Asprocinco), com a participação de cerca de 400 agricultores ligados ao PAD Burareiro e outras localidades. No encontro, o desembargador Fernando Prazeres, coordenador da Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça, ouviu as manifestações e os argumentos dos agricultores.

O coordenador-geral da operação explicou que, durante a reunião, foi reconhecido um erro na instalação do assentamento na região. “A comissão iniciará seus trabalhos a partir dos dados coletados nas visitas técnicas”, disse. Dessa forma, o CNJ vai elaborar um relatório a ser encaminhado ao novo relator do caso, a ser designado após a aposentadoria do ministro Luiz Roberto Barroso.

VISITAS TÉCNICAS - As visitas técnicas representam o primeiro passo de uma ação mais ampla, com a qual a Comissão Nacional de Soluções Fundiárias espera, em um prazo razoável, solucionar um problema que se arrasta por mais de 30 anos, envolvendo processos judiciais e recursos pendentes. Diante desse cenário, as visitas técnicas foram de suma importância, ao contribuir para atenuar questionamentos envolvendo a região. “A área do PAD Burareiro possui mais de 300 mil hectares, mas a discussão envolve a destinação de 14 mil hectares, correspondentes a parcelas do que, na verdade, é um projeto de colonização, implementado na região nas décadas de 1970 e 1980”, contextualiza Nilton Tubino.

PRÓXIMOS PASSOS - Após as visitas técnicas realizadas pela Comissão, com acompanhamento do Governo do Brasil, inicia-se um período de interlocução, com a emissão do relatório. O relatório será encaminhado ao processo no STF e terá caráter público. O objetivo é relatar detalhadamente as atividades realizadas durante a visita técnica. Ao final, a Comissão irá apresentar recomendações, e não determinações judiciais. O julgador poderá ou não as acatar, convertendo-as, se for o caso, em determinações judiciais. O relatório também será enviado ao CNJ.

Dentre as recomendações, será incluída a data da primeira sessão de mediação. As mediações serão, em regra, virtuais, facilitando a participação de todos. As mediações costumam ser longas, seja pela complexidade do caso, seja pela quantidade de pessoas e órgãos envolvidos.

A expectativa é que os trabalhos da comissão resultem em soluções permanentes, que beneficiem tanto as comunidades indígenas quanto os agricultores. Além disso, busca-se cumprir as determinações, inclusive as do último despacho do ministro Barroso, de concluir o processo ainda este ano.

“A mediação é um processo que se baseia na participação voluntária. As partes envolvidas, bem como os demais órgãos interessados, são convidados a participar. Essa é a essência da mediação, o que denominamos voluntariedade. Somente com essa característica a mediação pode ser construída e ser produtiva”, ressalta Fernando Prazeres.

Agricultores do PAD Burareiro participaram de encontro na sede da Asprocinco, em Rondônia | Foto: Freddy Charlson/Secom-PR
Agricultores do PAD Burareiro participaram de encontro na sede da Asprocinco, em Rondônia | Foto: Freddy Charlson/Secom-PR

BUSCA DE CONSENSO - De acordo com o desembargador Fernando Prazeres, caso não seja possível alcançar um consenso - o que seria o ideal, segundo ele, em termos de tempo, eficiência e eficácia -, o processo será devolvido ao Supremo Tribunal Federal. O STF, então, definirá as questões necessárias ao andamento ao processo.

“O objetivo da Comissão é abrir um canal de diálogo para que o processo de desintrusão ocorra da melhor forma possível, ouvindo todos os interessados, a fim de otimizar tempo e recursos. Nosso foco é exclusivamente o território indígena e os eventuais direitos dos ocupantes, seja por aceitação ou por colonização”, afirma.

Uma das lideranças indígenas das comunidades e morador da aldeia Jumari, o presidente da Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, de 25 anos, pede rapidez nos trabalhos da comissão. “O meu objetivo como liderança é trazer melhorias para o meu povo, trazer o bem-estar para o meu povo trabalhar, morar tranquilo em uma comunidade, proteger o que já viemos protegendo. E fazer com que os indígenas fiquem bem, dentro de suas casas sem sentir medo”, diz Bitaté, que atualmente coordena oito aldeias na região.

Presente na reunião na sede da Asprocinco, o agricultor Pedro Santos cobrou uma solução definitiva para o impasse. "Pedimos à Comissão do CNJ que resolva o problema do PAD Burareiro. Seja para a gente ficar na propriedade, seja para nos tirar. Confiamos muito nos senhores, nós acreditamos na Justiça brasileira. Nunca quisemos fazer justiça com as próprias mãos. Sempre aguardamos a justiça e acreditamos que ela será feita", solicitou.

HISTÓRICO - A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi homologada pelo Decreto Presidencial número 275, de 30 de outubro de 1991, e possui área de 1,8 milhão de hectares, distribuída em Guajará-Mirim e em outros 11 municípios de Rondônia. A área sobreposta é de 14 mil hectares. No território vivem cerca de 500 indígenas dos povos Jupaú (Uru-Eu-Wau-Wau), Amondawa, Cabixi e Oro Win, distribuídos em 12 aldeias, além de pelo menos três povos indígenas isolados já confirmados.

OPERAÇÃO - Até o momento, foram realizadas 276 ações que resultaram em prejuízo de R$ 6,7 milhões à estrutura ilegal instalada dentro e no entorno da terra indígena. Os esforços envolvem patrulhamentos em rodovias, reconhecimento de ramais suspeitos de cometimento de crimes, apreensão de materiais e fiscalização de atividades ilícitas como extração ilegal de madeira.

Iniciada no dia 8 de setembro deste ano, a operação de desintrusão cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ADPF 709, com o objetivo de resguardar a vida, a dignidade dos povos indígenas e a proteção da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. As ações são coordenadas pela Casa Civil da Presidência da República, com a participação de diversos órgãos e agências federais, entre eles Censipam, Ministério dos Povos Indígenas, Funai, Ibama, ICMBio, Incra, Exército Brasileiro, Polícia Federal, PRF, Abin e Força Nacional de Segurança Pública.

A desintrusão reafirma o compromisso do Estado brasileiro com a proteção da Amazônia e dos povos indígenas, ao mesmo tempo em que respeita as determinações judiciais e instrumentos de conciliação na busca por soluções equilibradas.

A operação segue de forma planejada, transparente e responsável, garantindo a proteção do território e o fortalecimento da presença do Estado na região. Esta é a nona operação de desintrusão promovida desde 2023. Já foram realizadas ações nas terras indígenas Alto Rio Guamá (PA), Apyterewa (PA), Trincheira Bacajá (PA), Karipuna (RO), Munduruku (PA), Araribóia (MA) e Kayapó (Pará), além da TI Yanomami (RR), em execução.

Andreazza Joseph
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