1. Ações integradas de cuidado promovem a reconstrução de vidas e o fortalecimento de laços em Quixadá (CE)
Em um bairro simples de Quixadá, no Ceará, uma história de resgate, amor e dedicação reafirma o poder transformador do cuidado. Francisca Marli de Araújo, de 50 anos, cuidadora há quase uma década, não só mudou a vida de um homem em situação de rua, mas também encontrou um propósito para si que vai além do trabalho.
Tudo começou quando Marli, que já atuava como cuidadora de idosos em um dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) da cidade, foi designada para acompanhar Marcos Antônio da Silva, um homem de 53 anos que vivia nas ruas desde os 14, após a morte da mãe. Sem documentos e com um histórico marcado pelo abandono, ele foi acolhido pelo município após ser internado com uma grave infecção.
“Quando o conheci, ele não tinha nada. Corremos atrás da documentação para que ele pudesse receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC)”, contou Marli. De 2020 a 2022, todas as despesas de Marcos — aluguel social, alimentação e o salário da cuidadora — foram custeadas pela prefeitura. Em 2023, com o BPC garantido, ele passou a ter autonomia para cobrir seus gastos, enquanto Marli seguia ao seu lado, remunerada pelo município.
Para Marli, cuidar não se resume a tarefas práticas. “Quem não serve para servir, não serve para viver”, repetiu ela o ensinamento que aprendeu com a mãe, líder comunitária e fundadora da Associação dos Moradores do Campo Velho, da qual Marli hoje é presidente.
O vínculo com Marcos transcende a relação profissional. “Ele é como um filho para mim”, disse, emocionada. Apesar das sequelas do tempo nas ruas - ele frequentemente esquece conversas -, Marcos expressa gratidão. "Sempre digo a ele: 'Não é favor. Você vive do que é seu dinheiro do BPC'", reforçou Marli..
Além da alimentação e moradia, a cuidadora assegura que Marcos tenha acesso a lazer e saúde. Ele faz acompanhamento no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) com cardiologista, infectologista e neurologista, além de contar com apoio contínuo da assistência social.
A secretária municipal de Assistência Social de Quixadá, Izaura Oliveira, destacou que a cidade passou a ter um olhar para a importância do cuidado, especialmente com idosos e pessoas em vulnerabilidade.
O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), evidencia o acelerado processo de envelhecimento populacional em curso no Brasil. Aproximadamente 32 milhões de pessoas (15,8% da população) são idosas. Dez anos antes, segundo o Censo de 2010 havia 20 milhões de pessoas idosas, o que correspondia a 11% da população brasileira.
“Esse cuidar das pessoas passa sobretudo pelos idosos. A gente sabe que o país é um país que está envelhecendo. É um país onde cada vez mais (a população de) idosos está crescendo. E a gente não poderia fingir que não existia. Aí, foram surgindo as demandas de cuidar dos idosos”, refletiu.
A vida de Marcos, antes marcada pela dura realidade das ruas, revela a importância de um olhar atencioso e da união entre diferentes setores da assistência social.
“O cuidado vai além da saúde e da moradia. Inclui o lazer, a saúde, moradia com qualidade e todos os cuidados necessários, principalmente o vínculo familiar”, explicou a secretária municipal.
A gestão municipal busca inovar na forma de oferecer esse cuidado, proporcionando convivência social e um ambiente acolhedor.
“A gente foi pensar o cuidar de forma diferente, proporcionando de forma diferente a convivência social. Esse é um cuidado que melhora a vida deles. A assistência tem que ter o olhar do cuidado. O cuidado passa por proporcionar um ambiente agradável de convivência", finalizou Izaura.
Política Nacional
Em dezembro do ano passado, o presidente Lula sancionou a Política Nacional de Cuidados, que vai garantir o direito ao cuidado (entendido como o direito de cuidar, de ser cuidado e do autocuidado), por meio da corresponsabilização entre homens e mulheres e entre as famílias, a comunidade, o Estado e o setor privado pela provisão de cuidados, considerando as múltiplas desigualdades que impactam a provisão e o acesso a esse direito.
A proposta de lei foi elaborada por mais de 20 ministérios, em articulação com o Parlamento, com governos da América Latina e com participação de diversos setores da sociedade civil, como sindicatos, associações e movimentos sociais.
O trabalho foi coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e pelo Ministério das Mulheres, que assinaram o projeto de lei, juntamente com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). Agora, o Governo Federal trabalha no Plano Nacional de Cuidados, que vai traduzir em ações as diretrizes da política.
Assessoria de Comunicação - MDS